23.9.14

LIBERDADE DE VIVER




  Desde que o lar de Malcata abriu as suas portas já acolheu muitos idosos. Sabemos que a população da nossa aldeia está envelhecida e são poucas as crianças nascidas nestes últimos anos. São tão poucas que a escola primária já está encerrada e a creche continua também de portas fechadas.
   Afinal, quantos idosos vivem em Malcata?
   Quantos vivem nas suas casas?
   Quantos deles optaram livremente para irem viver para o lar de Malcata?
   E quantos lá se encontram empurrados pela família ?
   Dos idosos que ainda permanecem nas suas casas, quantos são apoiados pelo lar? E o apoio que o lar lhes oferece é o suficiente, é o que eles realmente necessitam?
   São muitas perguntas que me preocupam nestes últimos tempos. Espaço no lar da aldeia é coisa que parece não faltar. Se faltava espaço e as condições não eram as melhores, com a construção do novo pólo que está prestes a ser aberto, as melhorias das condições para os nossos idosos vão melhorar substancialmente.
   Olhando para os velhinhos é fácil entender que já têm muitos anos de vida, as rugas do rosto, as mãos calejadas, o andar meio encurvado são sinais que nos indicam que estas pessoas já vivem há muitos anos e agora sentem-se cansados.
   Os idosos são pessoas com muitos anos de vida, mas continuam pessoas adultas com capacidade de tomar decisões por eles próprios, como o que querem ou não fazer hoje e amanhã. São ainda donos das suas vidas, quer queiramos quer não, quer gostemos ou não das suas decisões.
   Acontece muitas vezes e até acredito que seja com boas intenções, a família intrometer-se na vida dos idosos. Os familiares não se dão conta que, às vezes, estão a pisar o risco, estão a violar a vontade própria do idoso e a sua autodeterminação, a sua vontade própria de poder gerir a sua vida, as suas coisas, o seu património, em resumo, a sua vida.
   Tanto a família mais próxima como os profissionais de saúde, desde os que trabalham nos hospitais aos que cuidam dos idosos nos lares, por vezes esquecem-se que estas pessoas, apesar de idosas, têm direitos. Todas estas pessoas não estarão a interferir demasiado na vida do idoso e nas suas escolhas de vida?
   Quantos idosos entram nos lares mesmo contra a sua vontade? E quantas famílias os vão lá retirar à força, contra a vontade deles?
   Esta é uma realidade que se vive em muitos lares, em muitas famílias e Malcata não deve ser diferente. A maior parte de nós acreditamos que os idosos, a partir de certa idade, ficam sem capacidade para tomar as suas decisões quanto à sua vida. Muitas vezes o idoso pede ajuda porque o neto ou netos o querem meter no lar, mesmo contra a sua vontade. Ou outras vezes, são os filhos do idoso que por causa da falta de trabalho, sentem-se quase obrigados a retirar o seu pai ou a sua mãe do lar, mesmo contra a sua vontade.
   Isto é violência da autodeterminação, é violência económica e se lhe juntarmos a violência emocional, temos à nossa frente um grave problema para resolver. E a solução é difícil de encontrar porque os idosos têm medo de muitas coisas: têm medo e não querem denunciar os abusos da família, da direcção do lar e dos seus funcionários. Apesar dos idosos se sentirem mal tratados e incompreendidos, vivem tristes e sofrem em silêncio porque têm vergonha de denunciar o que se passa com eles ou do que vêem ao seu redor. Ficam com medo de sofrerem represálias por parte daqueles que deles cuidam. E muitas vezes, até têm medo de serem acusados de serem eles os responsáveis pela situação por que estão a passar e acham que o melhor é calar, não dizer nada e sem querer continuam a viver numa permanente tensão. Só que estas atitudes e a aceitação destas situações, com o passar do tempo, começam por ter perturbações no sono e deixam de dormir tranquilamente, estão em constante nervosismo interior, quase com sentimento de raiva. Agindo desta forma, estão criadas as condições para o aparecimento de variadas doenças.
   O que fazer então?
   A instituição e os seus responsáveis e todos os seus colaboradores devem prestar sempre atenção a este tipo de comportamento. Detectadas as situações, há medidas que devem ser postas em prática.
   Outra acção a ser levada a cabo é que os idosos peçam ajuda e apoio. Aqueles que ainda estão de perfeita saúde e com plenas capacidades de tomar decisões, no fundo, que apesar da idade avançada, possuem uma vivência e uma independência íntegra e total, devem ajudar aquele que já não está na mesma situação. Ajudar ou pedir ajuda à instituição ou a algum cuidador em quem confie é um início. Se essa ajuda não existir, existem outros apoios externos e que os idosos podem e devem saber que existem e que estão prontos a ajudar a resolver o seu problema.
   Deixo aqui dois importantes apoios:
  
LINHA SOS PESSOA IDOSA
Telef. 800 910 100
A linha “SOS Pessoa Idosa” é um apoio feito pela Fundação Bissaya Barreto, para prevenir a violência contra pessoas idosas.
Abusos de dinheiro e atentados à autodeterminação, como o direito a escolher onde viver, são atendidos.

SAÚDE 24 SÉNIOR
Telef.808 242 424
Serviço telefónico gratuito do Ministério da Saúde. Os enfermeiros, após receber a chamada do idoso, contactam o idoso que quer ser acompanhado.


  

21.9.14

OS PREÇOS DA FESTA







  A festa de Malcata tem que ser forte e melhor que a do ano anterior. E festa não é festa sem banda de música, sem  procissão seguida de Missa Solene, Ramo e bailarico.
   Todos os anos os mordomos querem superar a comissão do ano passado. Para isso procuram apresentar programas diferentes, com realizações surpresa e não se poupam em realizar peditórios rua a rua, porta a porta, seja na aldeia ou nos arredores de Paris.
   O mês de Agosto ainda é o mês em que os emigrantes vêm à festa da sua terra. Eles vivem e trabalham lá longe, mas a vinda a Malcata, só o fazem com a condição que no segundo domingo de Agosto, haja festa.
   Hoje ser mordomo é uma demonstração de maturidade, de vitória e também de algum poder. Qualquer mordomia sabe que a participação dos emigrantes nas comissões de festas, pode significar o êxito da festa que vai organizar. E os emigrantes também sabem que é assim mesmo, sem a participação deles, a festa não tem dimensão e espectacularidade para encher o olho às pessoas.
   É por isso, pela importância que têm, que os emigrantes vêm todos os anos à festa.
   Mas, já alguém se perguntou qual o preço da festa de Malcata? E o programa da festa como é pensado? A componente religiosa não há muito a pensar, pois todos os anos se repete o mesmo. No Domingo da festa, antes da Missa Solene, sai a procissão com os santos da igreja. Cada um vai no seu andor e cada andor é levado com devoção e como testemunho público da religiosidade e fé cristã.
   Mas será que as pessoas vêm à festa só pela procissão e pela missa? Vêm de tão distante para durante uma semana mostrarem que ainda são religiosos, que vão à igreja e vivem os valores cristãos?
   Quanto aos emigrantes podemos distinguir dois grupos: aqueles que foram para França nos anos 60 e 70 e aqueles que lá nasceram ou chegaram nos anos 80 e 90. Os emigrantes do primeiro grupo são constituídos por pessoas que partiram para França para ganhar dinheiro, muito mais dinheiro. Partiram e voltam sempre. Não abandonaram a aldeia, simplesmente sentiram necessidade de partir em busca de melhor vida, uns até foram para fugir à chamada para a guerra colonial e ao regime político então em vigor.
   Outras razões e outras formas de ver a vida tiveram aqueles que partiram nos anos 80 e 90. Vivem em França, têm as suas próprias moradias, ao contrário dos seus pais ou familiares, que habitaram nos bairros de lata que rodeavam Paris. Muitos já têm filhos e casaram com pessoas francesas ou portuguesas, mas nascidas noutras terras que não Malcata. E por França irão permanecer até que os filhos terminem os estudos e acabem por lá ficar a trabalhar.
   É deste segundo grupo que agora estão a sair os mordomos. A festa serve, então, para deixar pais e mães cheias de orgulho e é um testemunho da passagem das tradições e costumes que noutros tempos também os seus avós partilharam.
   A festa de Malcata sempre teve cariz religioso, aliado a outras manifestações populares, como sejam os bailes, as bandas de música, as animações de rua, os jogos tradicionais e nestes últimos anos acaba com lanche/jantar de porco para todo o povo.
   Alguém imagina como era a vida em Malcata há 30 ou 40 anos? Estamos a recuar até 1974…1994! Lembram-se das queixas das pessoas quando a luz eléctrica ia abaixo? E o tempo era preciso esperar até os electricistas chegavam do Sabugal a Malcata, para abrirem a cabine da luz, na Fonte Velha e com um simples fio de cobre bem colocado no porta fusíveis voltava a música, as luzes do arraial e os conjuntos reiniciavam as actuações. Parece muito estranho, mas não aconteceu assim há tantos anos. Hoje graças ao reforço da rede eléctrica, essas situações são raras e no Rossio há electricidade para aguentar qualquer aparelhagem de som.
   Hoje como no passado, a festa continua a ser festa e o povo é disso que gosta. E hoje como no passado, ainda não houve mordomia que apresentasse as contas em suporte escrito ou digital, indo para além do aviso feito pelo pároco da nossa comunidade. Até quando?

17.9.14

FESTA RELIGIOSA E DIVERTIMENTOS PROFANOS

As Festas de Malcata são, muito provavelmente, o momento mais alto e mais popular do ano que se realiza na nossa aldeia. Não sei se ao longo da história da paróquia a Festa terá sido celebrada como o tem sido nestes últimos anos, mas hoje o segundo domingo de Agosto, é o dia da Festa,
É uma época em que muitas pessoas estão de férias e é um excelente pretexto para o regresso dos emigrantes, à terra que os viu nascer. Tem sido uma Festa Religiosa e Não Religiosa, tendo todas as comissões de mordomos conseguido manter uma boa ligação entre as duas componentes da Festa.
E na nossa paróquia, ou se quiserem na nossa aldeia, a Festa tem sido, alternadamente, em honra de quatro Santos: Sagrado Coração de Jesus, Senhora do Rosário, Senhora dos Caminhos e São Domingos.
A Diocese da Guarda aprovou a Legislação Diocesana das Paróquias e Administração Paroquial e está em vigor. Neste documento está um capítulo que trata do Regulamento das Festas Religiosas. Ele tem como objectivo principal o dar a conhecer a todos os fiéis e párocos as orientações diocesanas quanto às festas religiosas.
Pelo que consegui apurar, todas as Dioceses possuem o seu Regulamento das Festas. Basicamente são cópias uns dos outros. Contudo, tomei a iniciativa de solicitar à Diocese da Guarda, que me facultasse o referido documento. E já me chegou, enviado pelo Padre Hugo Martins :



REGULAMENTO DAS FESTAS












   Leiam, conversem entre uns e outros. Eu tenho acompanhado os acontecimentos à distância e talvez isso me permita ter uma visão mais fria e objectiva.
   Lembro que vivemos agora num Estado laico, mesmo assim, a Igreja continua a ter um papel muito importante junto das pessoas, nomeadamente das comunidades de fiéis como Malcata, onde a Igreja tem um papel conciliador e nunca de divisão.
   Ao decidir-se alguma coisa sobre as Festas de Malcata, é necessário observar alguns detalhes e conhecer a organização das festas da nossa aldeia. Há que ter em conta as tradições que os nossos antepassados nos transmitiram e sem ir contra as normas da Diocese, encontrar um caminho que seja do agrado de povo e igreja.
   A festa religiosa é importante. E os divertimentos também. Noutros tempos, a Festa era o grande momento aguardado por todos os malcatanhos para celebrar a vida. A vontade dos homens de boa fé e as decisões que em conjunto obtiverem, vão ao encontro da vontade de Deus.








14.9.14

MALCATA 2014 - A FESTA




Há certos acontecimentos nas nossas vidas que, por serem demasiado marcantes, devem servir de exemplo e de reflexão para todos e cada um de nós.
   As Festas de verão em Malcata é um desses casos. Trata-se de um acontecimento que pela sua importância e o impacto que causa nas pessoas, ficam a fazer parte da história de Malcata.
   Tenho a certeza que já ocorreram factos durante as Festas de Malcata que marcaram quem os protagonizou e aqueles que assistiram ao seu desenvolvimento. Já sabemos, que até à década de sessenta, as festas tinham lugar na igreja e no adro. E no ano em que os mordomos decidiram mudar para o Rossio, padre e alguns paroquianos, não ficaram agradados e terá havido ali alguns desentendimentos de parte a parte.
   Há uns anos atrás, lembro-me das conversas dos mordomos acerca dos bailes e dos conjuntos de música e da recomendação que o padre Lourenço lhes fazia: os bailaricos e tudo o que não fosse de caracter religioso só podia começar no fim das pregações na igreja. Os mordomos cumpriam essa ordem do padre e o povo também acatava, apesar de alguns não gostarem lá muito, pois, muitas vezes, as cerimónias demoravam mais tempo do que o previsto e o recinto das festas estava sem ninguém, o bar não fazia dinheiro, etc.etc.
   Para que não fique dúvida nenhuma, desejo aqui deixar bem claro que este meu apontamento não visa, de forma nenhuma, atingir, maliciosa ou injustamente, o pároco actual, o Pe.Eduardo. Não é meu propósito denegrir quem quer que seja, mesmo que supostamente pudessem haver razões para tanto. O meu objectivo é tão somente levar as pessoas de Malcata, incluindo os mordomos, a uma reflexão sobre as Festas de Malcata.
   A verdade é que o senhor padre este ano tomou algumas atitudes menos correctas. Foi um erro, mas que lhe pode custar caro e que ele começou já a pagar ao ser desprezado por alguns mordomos e outras pessoas do povo. Dirão que essas pessoas que confrontaram o padre Eduardo não têm esse direito e deviam seguir o que ele lhes dizia para fazer, que a festa é da igreja, que quem manda na igreja é o padre, etc.,etc. Sejamos razoáveis e coloquemo-nos cada qual no seu lugar. Conta-se que na véspera da festa, portanto no sábado, o padre apareceu na igreja e falou com os mordomos dando indicações acerca da organização da procissão com os santos e na forma ordenada que os participantes deveriam ter em conta, ou seja, participarem na procissão caminhando em duas filas, uma de cada lado da rua, em silêncio e não junto aos andores. Outra indicação que receberam os mordomos nesse mesmo momento terá sido um pedido também feito pelo senhor padre que consistia em colocar os santos no adro da igreja enquanto decorreria a Missa Solene, obtendo mais espaço no interior do templo para permitir que mais pessoas entrassem para participar nas cerimónias. Ora este movimentar dos andores nunca se faz em Malcata e foi difícil ouvir e acatar essa ideia do padre. Se o ambiente estava crispado, piorou quando os mordomos ouviram as palavras do padre dando a entender que os santos que estavam nos andores não eram mais do que umas estátuas de madeira. Caiu o Carmo e a Trindade, entornou-se o caldo por completo. E parece que para ajudar à “missa” alguns elementos da Fábrica da Igreja apoiavam a atitude do padre Eduardo. Lá se entenderam, ou pelo que sei, os santos participaram, como sempre participaram. Ninguém os retirou da igreja para o adro, a igreja e o adro encheram-se de pessoas.

   Estamos no século XXI, dizem que vivemos num regime democrático e livre. Voltando, por instantes, aos anos 50 e 60, época da ditadura. Na nossa aldeia e nas outras, para além da ditadura, a Igreja tinha um peso enorme e isso sentia-se nas pessoas. Muitas vezes, os padres ditavam ordens, em forma de avisos, muitas vezes no final das missas dominicais, que as pessoas eram forçadas a acatar. E caso não o fizessem, eram apontadas como “rebeldes” e poderiam vir a sofrer severas penalizações impostas pelo regime político que detinha o poder e aquelas ameaças de irem para o inferno, caso desobedecessem. Viviam num ambiente do “mando, posso e quero”.
   Os mais velhos recordam que, salvo raras excepções, a Igreja Católica portuguesa, no tempo do Cardeal Cerejeira, amigo de Salazar, andava de mãos dadas com o seu Governo. Por isso, nada de surpreendente, o facto de alguns padres terem praticado excessos, cometeram certos abusos. E em Malcata, onde a maioria trabalhava na agricultura e vivia dela. Sabe Deus como, porque as dificuldades eram muitas e o trabalho era mais manual, mais à custa da força humana.
   Mas a verdade é que, apesar de pobres e por vezes passando menos bem, o povo de Malcata sempre gostou de festejos. Malcata era um povo pobre, mas alegre. Podiam as pessoas sentir-se cansadas do trabalho nos campos e mal comidas, mas as festas tinham que ser feitas. À festa de verão, novos, velhos e as crianças, não podiam faltar.
   Nesses tempos, a festa da aldeia era algo de muito importante. Hoje é difícil explicar esse sentimento aos mais novos. Apesar deles ainda virem a Malcata por altura da festa, antigamente era o maior encontro do povo. Era quase uma “obrigação” dos malcatanhos que vivem fora de Malcata virem à terra para marcar presença na festa. Tal como no passado, também hoje todos se divertem e confraternizam com os amigos e família. Ainda continua a ser o evento que mais gente traz à aldeia. No passado, vinha mais gente das aldeias mais próximas como aquelas que vinham do Meimão, das Alagoas ou da Aldeia de Santo António. Todos procuravam a diversão e conviviam uns com os outros. Reparem que nessa época as diversões eram poucas, a televisão ainda era a preto e branco e Malcata só teve luz eléctrica a partir de 1965.
   Voltando às festas de Malcata, depois da mudança do adro da igreja para o Rossio, dado o êxito obtido, os mordomos não arrepiaram caminho e o adro ficou completamente apagado das festas.  Apesar da oposição de alguns e dos avisos do Pe.Lourenço para que houvesse respeito pelas cerimónias religiosas e a constante chamada de atenção aos mordomos para que a festa no Rossio só tivesse início depois das pregações, os festejos ainda hoje lá continuam.
   Escusado será dizer que a festa deste ano correu bem. O dia amanheceu, houve a tradicional procissão com os santos à volta do povo, celebrou-se a Missa Solene e a tarde foi animada pelo Ramo, Banda de Música e à noite baile animado.

13.9.14

A FESTA DE VERÃO


   Continuamos a contar a história da Festa de Verão de Malcata. Já abordámos a alvorada, a Música, a Missa Solene e o Ramo. Então, agora vamos recordar os bailes no Rossio e o fim da festa.
Como já referimos, o adro da igreja foi o palco principal das festas até aos anos sessenta, que começaram a ter lugar no Rossio, pelo menos a parte profana da festa. E a mudança não foi lá muito pacifica, pois nem toda a gente ficou contente com a alteração feita pelos mordomos e estes não se livraram de serem criticados. O bar da festa foi montado pela primeira vez onde hoje ele tem funcionado. Lembro-me de ter sido feito com madeira e uns paus, umas tábuas largas faziam de balcão, bidões de 100 litros cheios de água e blocos de gelo serviam de “arca frigorífica”  que mantinha as bebidas frescas.
A mudança no primeiro ano foi um pouco arriscada, mas apesar das críticas, acabou por ficar.
O nosso historiador, José Rei, volta a escrever sobre as festas de Malcata, do Ramo e do Rossio:
   “Enquanto o Ramo decorria, as crianças amontoavam-se à volta do homem das amêndoas e dos santinhos de açúcar. Nas pausas do Ramo. O tocador do acordeão abrilhantava o baile. De vez enquando também tocava a Banda da Música, porque o mais importante era que o Ramo corresse bem. Pouco se dançava na tarde da Festa, ficando o baile adiado para depois da ceia.
Só a partir da década de 60 começaram a aparecer os conjuntos de música. A Música, a Banda da Música, ao por do sol abalava e todos ficavam um pouco mais tristes. Contudo, num derradeiro esforço anímico, a mocidade ainda acompanhava efusivamente a Música até ao momento da partida.
Quando os mordomos eram rijos, a festa acabava como havia começado: com foguetes, mas de lágrimas, que a pequenada tentava em vão agarrar”.


11.9.14

A FESTA DE VERÃO ( Continuação )


   A Festa de Malcata já passou, mas nós vamos continuar a falar da Festa Grande, a Festa de Verão. No anterior artigo abordámos, com a ajuda do José Rei, como se vivia a festa de Verão, a chegada da Música ( Banda Filarmónica ) e a alvorada. Depois do foguetório e da Música vem a Procissão, a Missa e o Ramo. Então vamos lá convidar novamente o nosso José Rei e ler como ele observava a Festa.

MISSA SOLENE:O GRANDE MOMENTO DA FESTA

Igreja cheia na Missa Solene


   “O momento alto da Festa acontecia com a Missa Solene, mas antes havia uma procissão, um cortejo de visível religiosidade misturado com muita vaidade. E o ar ainda cheirava a pólvora!





O RAMO, uma das maiores fontes de receitas




O Arrematador do Ramo



   "A meio da tarde acontecia o Ramo, que era feito no adro da igreja. E só na década de 1960 a parte profana da festa passou a realizar-se no Rossio. O Ramos era um momento cuidadosamente preparado pelos mordomos, pois nesse tempo, era a principal fonte de receitas para pagar as despesas contraídas. O Ramo consistia na arrematação/leilão de ofertas de diversa índole, com destaque para os doces, o pão-leve, queijos, enchidos e cabritos. E também no Ramo se misturavam religiosidade e vaidade. Uns licitavam por cumprimento de promessas e ou sentido de ajuda, outros faziam-no para mostrar riqueza. O habitual nestas situações! E os mordomos agradeciam, enquanto o arrematador de ofertas, na sua característica estratégica de incentivo à licitação, “dez escudos, uma(…), dez escudos, duas (…), dez escudos(…) quinze escudos pró Ti João Filipe, uma (…), duas (…). E a lenga lenga continuava de oferta em oferta”.....escreveu José Rei.

   Depois de ler este texto que dizer? Olho para o arrematador e vejo-o em cima da caixa de carga de uma carrinha, talvez até seja a do Ti Alberto, pois é ele a voz e o homem que sabe puxar pela oferenda e dar-lhe ainda mais valor do que o que ela realmente tem.Claro que todos sabem que quanto mais alto for a licitação, mais dinheiro entra para pagar as festas!
   Nos anos 50, 60s, o arrematador talvez subisse para cima de um carro de vacas...lá no adro da igreja!
   Nessa época, o Ramo era a principal fonte de financiamento que os mordomos tinham para pagar as despesas. Juntavam-se também as ofertas obtidas pelos mordomos durante as voltas que davam ao povoado, indo de casa em casa e de rua em rua pedir para a festa.
   Outros tempos, outras festas e que todos ansiavam por festejar!







9.9.14

MALCATA: UM LAR PARA TODOS

Carlos Clemente, guia-nos pelo novo lar


Com as portas abertas desde 1995, com Carlos Clemente a presidir a (ASSM) Associação de Solidariedade Social de Malcata, também sempre acompanhado por.Susana Marques, como directora técnica, Andreia Castanheira, como Animadora Social, Marta Clemente, a assegurar os serviços de enfermagem,  Manuel Carlos Gonçalves que preside às Assembleias Gerais, ainda com mais quatro elementos que não sei se ainda integram a equipa, mas que são: o seu Vice-Presidente, Joaquim António Fernandes, o seu Tesoureiro Armando Bernardo e o secretário João Paulo Varandas Nabais.
O sonho de criar o lar partiu de Carlos Clemente e de uns amigos de Malcata. A população da aldeia ajudou e muito a concretizar o sonho em realidade e como me dizia Carlos Clemente, a associação era a melhor maneira de construir este grandioso projecto. Para além do apoio do povo, a doação dos terrenos pelo seu dono, o senhor Manuel Augusto Cidades ( Ti Cidades ), contou-se logo com o apoio dos emigrantes e imigrantes e o próprio Estado, através dos serviços da Segurança Social da Guarda.

Quartos novos com camas novas

A ASSM nunca mais fechou e tem sabido manter as portas abertas e tem sabido ultrapassar as muitas dificuldades que vão surgindo ao longo do caminho.Neste momento, em Agosto de 2014, já estão terminadas as obras do novo pólo, situado ao lado do pavilhão multi-usos, estando apenas a aguardar as inspecções legalmente exigidas para que as novas instalações comecem a acolher os utentes da instituição.

W.C.com ajudas

Este novo edifício vai proporcionar uma melhor qualidade de vida aos utentes. O Lar mais antigo continua aberto, vai também beneficiar e quem nele permanecer ou entrar, terá também melhores condições, pois alguns dos idosos que agora vivem neste espaço mais antigo serão transferidos para o novo lar. Ou seja, ambos os edifícios ficarão com mais espaço e claro, os utentes serão beneficiados com estas mudanças.
Quarto com vista para a serra da Malcata


Carlos Clemente, durante a breve visita guiada pelas instalações novas, não escondia o contentamento e a satisfação de mostrar os novos quartos, as camas novas e todas com comando eléctrico, as mesinhas de cabeceira, os espaçosos quartos de banho, todos eles no interior de cada quarto e equipados com louças sanitárias e as respectivas barras de apoio para os idosos. Além do consultório médico, vestiários para os funcionários, salas de lazer e repouso, o quarto com o equipamento de hidromassagem que muito vai beneficiar e contribuir para o bem estar dos idosos, deixou-me confiante e seguro da qualidade e dos benefícios que estão à disposição de todos os que a instituição cuida. E como a vida não é só dormir, o exterior tem espaços para jardim, podendo cada utente abrir a porta do seu quarto e ficar a apanhar os raios solares no seu jardim ou ver a lua e as estrelas lá para a serra. Não foram esquecidos os espaços de apoio ao trabalho e ao serviço propriamente dito. A lavandaria vai deixar o edifício velho e será toda montada neste novo pólo. Com um espaço muito mais amplo e melhores armários para guardar a roupa lavada

Central de aviso 
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Que mais posso referir? A segurança das instalações cumpre todas as normas exigidas para estes tipos de edifícios, desde extintores nos corredores, sistema automático de detecção de incêndio, em cada cama existe uma campainha que quando accionada, acende uma luz no exterior do quarto e em mais duas ou três pequenas centrais que indicam ao funcionário de serviço qual o utente a pedir auxílio. O mesmo sistema de campainhas foi instalado no gabinete de apoio médico, pois assim o auxílio poderá ser mais eficaz. De salientar que o gabinete de apoio médico está devidamente equipado com os equipamentos necessários que um médico normalmente precisa. Chamou-me a atenção a existência do armário refrigerado onde estarão os diversos medicamentos, especialmente aqueles que necessitam de frio.



Viver a olhar e cheirar a natureza

Que mais vos posso revelar?
A obra é de facto enorme e vai mesmo melhorar o bem estar dos nossos utentes. Malcata e o seu povo deve orgulhar-se de um dia ter sonhado com uma obra assim.
O homem sonha, Deus ajuda e a obra nasce.

ÁREA DE LAZER EM MALCATA

A Junta de Freguesia de Malcata está a terminar as obras de construção da área que rodeia a piscina flutuante, que em tempos foi colocada nas águas da barragem. A estrutura da piscina é a mesma e foi deslocada para mais próximo da ponte, mantendo-se na mesma margem. Na segunda quinzena de Agosto fui visitar o andamento das obras e registei o momento. O que há uns meses era um campo de giestas e outro mato deu lugar a uma área com relva, com mesas e bancos. Existe também duas áreas de areia fina e com guarda-sóis em forma de cogumelo, que encaixam na perfeição no local.
Existem também instalações sanitárias e chuveiros para quem deles necessitar. A Área de Lazer tem duas entradas e está proibida a entrada de veículos motorizados. No momento da minha visita a empresa responsável pela obra encontrava-se em plena laboração e estavam precisamente a colocar as primeiras mesas.

Entrada


 Área de relva e arvoredo ( freixos )



Mesas com bancos





Vista parcial




 Área de areia



Instalações sanitárias


Pelo que vi e pelo que o senhor Carlos me disse, membro da Junta de Freguesia, a Junta está empenhada em manter aquele local sempre limpo, bem tratado e espera que as pessoas desfrutem do novo espaço, tendo sempre o cuidado de não estragar o que tanto custou a construir.

8.9.14

A FESTA DO VERÃO


A “Festa Grande” é a principal festa de Malcata. Escrevo este texto depois desta se ter realizado. Para  mim e para muitos malcatanhos e muitas outras pessoas, emigrantes em França ou noutro país qualquer e imigrantes numa qualquer região portuguesa, participar nesta Festa Grande tornou-se num ritual e num dos momentos mais esperados por todos.
É uma festa que já se realiza há muitos anos e eu tenho o orgulho de pertencer a uma das famílias que durante anos, aceitaram a missão de organizar a Festa Grande de Malcata.
Desde 1959 que o relógio da torre marca o tempo, ali na Praça do Rossio ou na Torrinha, como também é conhecida. Os ponteiros por vezes imobilizam-se e até que se arranje a avaria, o povo de Malcata deixa de ouvir o badalar das horas e mesmo vendo que as horas no relógio não passam, o Tempo corre e não volta para trás. O nosso mundo continua a movimentar-se e passam as horas e os anos e todos ficam mais velhos. O mundo está sempre em mudança, incluindo festas e mordomos. Mas a vida continua e as festas também.

José Rei, nosso conterrâneo, filho de gente séria e humilde, dotado de rara inteligência e com conhecimentos de história, deixou-nos um testemunho escrito sobre a Festa Grande de Malcata, a festa do mês de Agosto como muitos lhe chamam também. Para ajudar a compreender o presente, conhecer o passado e o modo como os nossos antepassados  viviam a Festa é necessário recuarmos no tempo das nossas memórias e dessa forma ficamos mais informados para compreender as festas de hoje.

No seu livro, Malcata e a Serra, José Rei escreve assim acerca da Festa Grande de Malcata:

“Actualmente…entende-se a Festa como dos emigrantes. Ainda que a festividade mantenha uma componente religiosa, a vertente profana é, sem dúvida, muito mais expressiva. É o momento e pretexto para regressar à Terra e reencontrar amigos e familiares. Constitui um ponto de referência para a marcação das férias daqueles que trabalham e vivem nas grandes cidades ou noutros países.
Até às alterações introduzidas pela emigração, a Festa assumia um papel cimeiro nas manifestações da religiosidade e da vivência profana. Era também o momento certo para mostrar as roupas novas. A premência de estrear roupas era tal que muitas raparigas mostravam uma roupa nas cerimónias religiosas, outra no baile da tarde e uma terceira no baile da noite. Muitos rapazes não dormiam na noite anterior. Tinham por hábito esperar acordados a chegada da Música. Porque só havia música no dia da Festa, a sua chegada era aguardada por todos com grande ansiedade, sendo por isso a sua chegada anunciada com o rebentamento de três foguetes morteiros ( cada um só com uma bomba ). E seguia-se a alvorada, momento de especial encanto, em que eram lançados centenas de foguetes de diversos tipos. A Alvorada determinava desde logo a qualidade da festa. Fogo forte e abundante  era garantia de festa valente. Terminada a alvorada, a Música começava a tocar em passo marcado, pelas ruas da aldeia, parando em casa dos mordomos, onde lhes eram servidas bebidas e petiscos, doces e salgados. Enquanto estrelejavam foguetes no ar…À frente da Música seguiam os mordomos e o fogueteiro. A comitiva integrava também os miúdos e alguns moços com canas de foguetes já apanhadas nos campos . Abundava o fumo e o barulho, misturados com a azáfama própria e o som melodioso da música”.
José Rei, retirado do livro "Malcata e a Serra"

Continua...


TESTEMUNHOS SOBRE A FESTA



   Ainda sobre a festa deste ano e para que haja um pouco mais de compreensão de todos, considero importante dar a conhecer dois testemunhos. O primeiro é escrito por um dos mordomos da comissão de festas deste ano, Gael Metayer. O segundo foi escrito por Evelyne Martins, mordoma para 2015, que será em honra da Senhora dos Caminhos. Ambos os testemunhos foram copiados do Facebook e penso que  é importante divulgá-los :

Gael Metayer:" Não sendo de Malcata, não queria preocupar-me. Mas tendo feito parte dos organizadores da Festa deste ano, e quando vejo a dimensão deste facto, tenho que me exprimir. O padre não tem direito sobre o dinheiro da festa para além do que os mordomos queiram dar-lhe. Para que toda a gente esteja ao corrente pagámos as imagens do presépio de Natal no valor de 556€. Esta decisão e este pagamento são muito anteriores a todas estas histórias actuais ( Novembro de 2013 ). Nós não demos rigorosamente mais e por duas razões. Primeiro, o padre começou a "matraquear-nos" três semanas antes da Festa com estas alterações e com uma série de coisas que nos disse. A segunda razão é o  respeito pela palavra da maioria dos habitantes que nos pediam para nada lhe dar, e isto é o que mais conta. Para terminar, diria que é tempo de apaziguar o debate. É preciso ser construtivo! Se nós nos tivéssemos encarregado da festa do ano passado neste clima, que poderíamos ter feito este ano???
É preciso confiar nos mordomos para 2015 porque agora é a sua vez de gerir e são eles os representantes de Malcata. E sobretudo, sobretudo, é necessário continuar a apoiá-los e não boicotar a festa do ano que vem. Sandrine, sois todos bem vindos a casa e será com prazer que contribuirei para a vossa festa e penso, sinceramente, que é o que nós todos deveríamos fazer. Mais uma vez, confiança e apoio aos mordomos de 2015".



Evelyne Matins:"Tenho pena das proporções que isto leva. Não estamos aqui para nos dividir mas, pelo contrário, para nos apoiar. A Festa de Malcata é a altura do ano em que todos nós nos podemos reencontrar, quer estejamos em França, em Portugal, na Madeira, no Canadá, na Suiça...
Reencontrar os nossos familiares, os nossos amigos. É um momento de partilha e de alegria e todos nos sentimos felizes por nela participar. Como Sandrine e Michel, somos mordomos para 2015 e sentimo-nos orgulhosos de tal! O nosso desejo, é perpectuar as tradições. O meu pai tinha tanto apego a isso que nos fez crescer partilhando este orgulho de ser malcatanho, de participar nesta festa. Para os emigrantes, é a concretização de um ano passado ,longe dos seus, da nossa casa e da nossa terra...
Faremos a nossa festa de Nossa Senhora dos Caminhos 2015, aonteça o que acontecer, tentando respeitar ao máximo as nossas tradições, os nossos valores.Peço-vos apenas para não a boicotar e para nos apoiar. A nossa vontade é continuar a mantê-la viva. Emigrantes ou residentes de Malcata, fazemos todos parte da mesma aldeia, contribuímos todos para a economia e a evolução da nossa aldeia e temos todos uma palavra a dizer. Não é um padre que nos vai dividir e tudo mudar. Nós, nós somos todos malcatanhos, é a nossa aldeia, compete-nos a todos unir-nos, para continuar".



6.9.14

REGULAMENTO DAS FESTAS

Festas de Malcata(Foto de Júlio Cruz)

   A Diocese da Guarda  em 25 de Maio de 2011 fez aprovar a “Legislação Diocesana das Paróquias e Administração Paroquial” .  Este documento aborda os seguintes assuntos:
- A paróquia e o pároco;
- O Conselho Pastoral:
- Regulamento das Festas;
- Património Cultural e Arquivístico;
- O Centro Paroquial.
   Este documento tem como objectivo dar a conhecer a todos os fiéis das comunidades cristãs as orientações diocesanas quanto a estes assuntos.
   Quem conhece este documento? Por exemplo, em relação às festas de Malcata, nomeadamente a Festa Grande do mês de Agosto, assim por mim chamada para ser melhor identificada por todos os membros da comunidade paroquial da nossa aldeia, as várias mordomias que são anualmente nomeadas, são informadas da existência desta legislação diocesana?
   A Festa Grande de Malcata é uma festa de índole religioso. É visível aos olhos de todos que actualmente as cerimónias religiosas são as mais importantes para a comunidade paroquial. Contudo, as diversas manifestações festivas, embora realizadas no respeito pelos valores cristãos, são actividades extra-igreja, ou seja, profanas, mas também importantes para toda a adeia.
   A festa deste ano já é passado e agora interessa preparar a do próximo ano. Há que reunir as pessoas, pô-las ao corrente dos regulamentos das festas que a Diocese da Guarda deseja que seja colocado em prática. Dialogar, esclarecer e tenho a certeza que nascerá a Luz.
Nota final: Parabéns por mais um aniversário, Pe.Eduardo.

4.9.14

HÁ FESTA SEM MORDOMOS?

 

As festas religiosas são para manter, para promover e para estimular. As festas religiosas são uma forma de os fiéis mostrarem publicamente a sua fé, quando esta é autêntica e verdadeira.
   Um dos objectivos fundamentais das festas religiosas é festejar com Deus e os Santos e com as pessoas da nossa comunidade paroquial.
   Estas são as razões da realização das festas religiosas em Malcata. Claro que para além destas razões as festas de Agosto em Malcata são uma ocasião privilegiada para as pessoas se encontrarem, as famílias se reunirem, de acolher os amigos e visitantes. É a oportunidade que temos para promover a fraternidade, a união, a alegria e a nossa aldeia.
   Para haver festa é necessário pessoas que a organizem, que trabalhem e se empenham para que as actividades corram todas bem e que sejam do agrado da maioria. Os mordomos devem sentir-se como colaboradores escolhidos e estarem ao serviço da comunidade paroquial, sabendo que estão a desempenhar uma missão que lhes foi confiada.
   Está claro que o principal objectivo das festas religiosas de Malcata, sejam em honra de que santo ou santa for, é louvar a Deus, agradecer a Deus a vida, o bem, a sã alegria, a fraternidade, a união, a confraternização de todos quantos participam na festa.
   Quem pode ser mordomo?
   Com que critérios se escolhem os mordomos?
   Qualquer pessoa pode ser mordomo?
 
   Na nossa aldeia, há uns anos atrás, os mordomos durante muitos anos foram sempre as mesmas pessoas. Havia duas comissões de festas: os mordomos da Senhora do Rosário e os mordomos do Sagrado Coração de Jesus. Com a evolução dos tempos e como a idade destas pessoas nunca parou no tempo, vieram lentamente novos elementos. Ao mesmo tempo, a sociedade também sofreu mudanças importantes, a democracia instalou-se no nosso país e as mudanças também chegaram a Malcata e alteraram o modo de organizar as festas religiosas. No meu entender, a religiosidade foi absorvida pela profanidade e outras realizações e eventos festivos.
   E agora como são nomeados os mordomos? Pelo que sei, a comissão deste ano, por exemplo, nomeou a lista de pessoas para as festas de S.Domingos, seguindo a tradição dos últimos anos.
   Mas algo se passou na véspera da grande festa e ainda falta esclarecer muita coisa.
   A responsabilidade das mordomias tem abrangido todos os aspectos da festa: os religiosos e os profanos. Para evitar, a tempo, as confusões que aconteceram e os mal entendidos, será que se realizaram previamente reuniões preparatórias com o padre, com a Fábrica da Igreja e a comissão de mordomos? É que nessas reuniões acertariam toda a programação da festa e assim as actividades decorreriam normalmente. Eu acredito que se tenham reunido. Já não digo é que todos tenham apresentado claramente as suas ideias quanto às festas e ao seu futuro.
   Nos tempos que correm, disponibilizar-se para organizar uma festa, trabalhar um ou dois anos sem ganhar, ser mal compreendido, não é nada fácil. Aos mordomos o que lhes custa mais é a falta de reconhecimento por parte da comunidade e dos seus pastores, mesmo que tenham dado o seu melhor.
   E como vão ser as festas de Malcata no futuro próximo?
   Criar uma Comissão de Festas, fixa, com prémio indexado ao lucro obtido?
   Envolver a Junta de Freguesia na organização da festa ( parte não religiosa ) e a Fábrica da Igreja organizar a componente religiosa?
   Que outras sugestões?

Nota: Por motivos profissionais não estive nas festas deste ano.
          Um louvor e um agradecimento a todas as mulheres e homens que fizeram parte da Comissão
           das festas em honra do Sagrado Coração de Jesus.

2.9.14

AS FESTA DOS SANTOS

Procissão dos Santos(Foto de Júlio Cruz)
 
 Malcata é uma aldeia do enorme concelho que é o Sabugal. Freguesia com Junta e Assembleia, que para já, continuam a representar o poder político e administrativo do Estado.
A aldeia é também paróquia, integrada na Diocese da Guarda e sob o seu Bispo, é ao padre que cabe a responsabilidade de orientar esta comunidade de fiéis.
Tanto a Junta de Freguesia como a Paróquia são duas instituições que ao longo dos tempos servem de pilar da vida das pessoas que aqui nasceram e  vivem.
Ambas têm prestado um serviço ímpar e têm sido o elo de ligação deste povo.
   Os fregueses de Malcata são então membros de duas grandes instituições: a Junta de Freguesia e a Paróquia. A primeira faz parte do poder político e administrativo do nosso país e é a legítima representante do Estado. Os seus membros directivos são escolhidos pelo povo, através de eleições que se realizam de quatro em quatro anos. Já o mesmo não acontece com a escolha do pároco da comunidade religiosa de Malcata. É escolhido pelo Bispo Diocesano e sem haver consulta ao povo.
   Parece que somos um rebanho sem pastor…o novo padre é senhor de uma personalidade autoritária e está a ter dificuldade em manter o seu rebanho no seu curral uma vez que as ovelhas parecem renitentes em serem domesticadas, como por exemplo, quando vão nas procissões e o pastor lhes pede para formarem duas filas bem alinhadas e não caminharem todos juntos, atrás do andor do seu santo devoto, parecendo mais um rebanho de carneiros. Essa foi uma das dificuldades sentidas pelo padre , pois está a ser difícil manter o equilíbrio na balança de forças e sobretudo em conter os sentimentos reprimidos de alguns paroquianos.
   Para além da ordem na procissão vem ainda a ordem de durante a missa festiva levar os andores para o adro da igreja e dessa forma as pessoas poderem ocupar esses espaços até então ocupados pelos andores e participarem mais activamente nas cerimónias religiosas.
   Aparecer com esta ideia no sábado, véspera do dia da festa e sem que tenha existido um diálogo prévio, só poderia ter o desfecho que teve e as cerimónias ocorreram como nos outros anos. No dia da festa a igreja é realmente pequena e muitas pessoas ficam no exterior ocupando o adro, os degraus das escadas de acesso ao coro e ao campanário e até a sacristia fica superlotada.
   Tal como noutras aldeias, os habitantes de Malcata têm um forte apego e identificação cultural e religioso com a sua terra. Nas conversas de rua ou de café, sobressai o enorme apego, amor e identificação com Malcata, um certo sentimento de necessidade e até emocional de reviver o passado, o qual se torna mais visível nas festas do mês de Agosto. 
   Um acontecimento donde se pode concluir e medir as diferenças nas vivências e significados da religiosidade é a festa de Malcata. Enquanto no passado e até aos anos oitenta a festa, organizada rotativamente pelos mordomos do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora do Rosário, representava o momento auge da vivência religiosa da aldeia e as manifestações “profanas” eram muito poucas, pois para além da arrematação das oferendas ( Ramo ) e do baile animado pela banda filarmónica e tocador de acordeão, hoje estas são bem diversas e mais prolongadas no tempo. E hoje as colaborações que antigamente eram em bens alimentares agora são entregues em dinheiro. As festas de Malcata eram pagas com as contribuições de cada família e das quotas das Irmandades.  De  um dia de festa, que era o domingo, os gastos religiosos eram os dos padres que durante três dias vinham pregar à comunidade e no domingo da festa o pregador fazia o seu eloquente sermão, seguia-se o arranjo dos andores e da igreja, a banda da música filarmónica e os foguetes. Agora os gastos multiplicaram-se e a festa transformou-se numa competição e numa manifestação de prestígio, êxitos e poder que cada grupo de mordomos quer alcançar.      De um dia de festa, agora festejam-se  até 5 dias, com jogos populares, jantaradas, bandas musicais, discotecas móveis, festas da espuma e das pipocas, reconstituições medievais, acrobacias desportivas…levando o povo a embebedar-se de tanta festa. Ou seja, a festa religiosa continua cada vez mais engolida pela festa profana e nota-se uma certa sobre macia do laico sobre o religioso.
A aldeia de Malcata sofreu nestes últimos anos profundas mudanças e as repercussões reflectem-se na organização da freguesia e da paróquia, o que abrange a vida política, social e religiosa dos malcatanhos. A emigração, a Associação Cultural e Desportiva de Malcata, as próprias relações entre os residentes na terra e os que fora dela trabalham levou também a uma mudança e a uma maior influência da aldeia ao que se passa no mundo.
   Em Malcata, o poder está mudado e é disputado entre as várias forças existentes, estando o poder religioso a perder cada vez mais influência, surgindo sinais de discordância sobre quem deve ou não deter o poder sobre os espaços, os equipamentos, as festas e dinheiros que elas geram. E há muitos que querem o poder de poder sem pensarem que exercer  bem o poder é servir bem o povo.